Sr. Tempo

Senhor Tempo, como vai?

Já há alguns anos gostaria de lhe escrever. Inúmeros são os assuntos que preciso tratar com o senhor. Em primeira instância, gostaria de desafiá-lo a correr com menos velocidade. Assim, quem sabe, possamos nos debruçar sobre algumas questões importantes e talvez, de fato, entendê-las. Uma delas, por exemplo, é por que temos realmente que envelhecer? Não quero crer que seja somente uma questão de fisiologia. A criação foi bastante irreverente quando delimitou que precisaríamos de oxigênio para sobreviver, não concorda? Digo isso, por que é ele mesmo que nos consome lentamente. Ah, essa nossa vida e seus paradoxos!

Não sei se gostou da brincadeira que Einstein lhe fez. Não o leva a mal, o relativismo nos auxiliou a entender como a natureza se comporta em determinadas situações. E essa história toda de referir-se ao senhor sempre acompanhado do espaço, por favor, não se chateie. Sabemos da sua magnitude e repeitamos muito seu individualismo.

Não quero que me considere atrevido, mas algumas coisas eu preciso lhe dizer. Muito embora saibamos que contar as horas é uma convenção humana, não concordo com a maneira como manobra nossa existência. Por que temos que morrer? No decorrer da vida somamos conhecimentos e experiências. Ficamos mais velhos, e então, quando poderíamos usufruir da vida vivida, abandonamos o fronte, viramos pó. Isso, em minha opinião, é um tanto quanto irônico.

Gostaria de saber também o que tem depois do final do Universo. Tá, tudo bem… Não existe nada. Mas esse nada me intriga, como pode não existir nada? Como? Por que o Universo é tão grande? Mal conseguimos entender o que se passa nos limites do nosso planeta e existem algumas estrelas maiores que a nossa galáxia. Não sei se pode responder tudo isso, mas eu precisava perguntar.

Por vezes, acho sinceramente que o senhor nos usa para seu deleite. Fico imaginando seu sorriso em divertir-se com nossa pequenês. Confesso que fico indignado com isso. A frase que mais escuto atualmente é “não tenho tempo”. Desconsidere nossa arrogância em querer estabeler essa propriedade e dê-nos uma folga, por favor!

Sem mais delongas, fico por aqui. Desculpe o tom de desabafo, mas são questões que me acompanham desde muito.

Cordialmente,
Armindo Guerra Jr.