Bom dia: mais do mesmo!

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Quando o tédio lhe der bom dia, cuidado, pode ser que ele já tenha dormindo com você. Os raios de sol irão cantar a mesma canção, juntamente aos gestos que se repetem no mesmo movimento.

O senhor, enquanto coça seu bigode, cultivado em anos, irá ler seu jornal mastigado. As notícias, longe de surpreender os olhos, anunciarão as mesmas quedas de preço, e iguais injúrias sobre corpos que não mais respiram, aves em cativeiro apreendidas pelo Ibama, terrenos invadidos por pessoas sem território, e outras terras compradas por latifundiários. Nas páginas amarelas, o anunciante terá aumentado o preço do objeto anunciado. Nas entrevistas, as respostas serão as mesmas, dadas as perguntas que se repetem, embora seja mudado o entrevistado.

O que os filósofos denotam como ciclo cultural chamo de ser humano que beija a própria cauda. Como um cachorro que corre atrás de seu rabo, como se infestado de pulga ele estivesse; a cada manhã, a cada segunda-feira, corremos atrás das pulgas que nos incomodam e sequer pensamos em erradica-la. Por quê? Talvez sentir a coceira seja, perversamente, inevitável.

O supersticioso irá ler o horóscopo, tendo se tornado a lua seu ancião, julgando estar ali a solução de seu problema futuro, que ainda sequer ocorreu. O hipocondríaco irá sentir o sintoma de sua nova doença. O queixoso irá buscar registrar sua próxima reclamação. E o mundo será dito perdido por muitos, quando na verdade o próprio ser humano é o maestro desta orquestra!

Na Pérsia, os iranianos dirão que suas centrífugas são apenas para cozinhas, enquanto o povo sente fome. No mar cáspio, entretanto, estarão recheados de caviar os estômagos dos xeiques. Logo ali, na Síria, um pouco mais de sangue será o líquido predileto da Rússia, e da OTAN; bem, são as mesmas notícias, não é?

O Sudão ainda buscará sua independência na prática. Imigrantes ainda arriscarão suas vidas nos mares do Atlântico, ou do Marrocos em direção à Europa. Gays receberão pedras em suas faces na Rússia, e o desprezo dos que pedras não podem jogar em outros países. A Ucrânia permanecerá, politicamente, linguisticamente, geograficamente dividida. Expedições para Antártida irão relatar o aumento do nível dos oceanos e do aquecimento global. Em certos países asiáticos o crescimento populacional estará controlado, mas julgaremos que o problema do mundo estar lotado são eles, enquanto fabricamos outra criança.

Na China será estendida em comprimento e altura sua muralha. E nela dir-se-á que trataram de fazer um grande portão, para que a luminária do Mac Donalds pudesse adentrar sem maiores problemas. Em Cuba construirão portos, cuja inauguração será regada a caipirinhas brasileiras. Na copa do mundo, os jogadores formarão um time de 12, e os executivos nos conselhos irão sorrir com seus 32 dentes de ouro. Será uma competição deverás disputada.

O Facebook acobou de adquirir uma nova empresa. Uma transação de bilhões de dólares a mais do que a Google a Microsoft fizeram na semana passada. Os softwares mantiveram seus códigos os mesmos, mas as pessoas acreditam estarem usando outra aplicação. No Vale do Silício outra empresa surgiu; outra faleceu; e um suposto novo gênio, governo, dos computadores inventou um programa de rastreamento do usuário. Sua posição é sempre sabida, e suas tendências já estão estipuladas; George Orwell, nosso advogado, faleceu já faz anos; e tudo isso é o sorriso perante o advento da tecnologia; e a NASDAQ é o dentista da população virtual.

Enquanto isso, naquela mesma manhã de segunda-feira, aquele senhor bigodudo, do início do texto, estará ainda lendo seu jornal. Vê agora o tédio que sinto?

Autor: Lucas Vinícius da Rosa