Poetas não vão para o céu

Para que sentisse a simplicidade, tive de mastigar complexos sentimentos e intragáveis feridas. E assim, em estado perplexo, veio-me sua imagem bela à minha frente. Um momento de quase epifania, em que deixei de sangrar pelos pensamentos impróprios para sorrir pelo que você ensinava, mesmo sem saber. Minha final compreensão foi ter a sua visão. Entre os vivos pude ressuscitar; e sentir outra vez as tempestades humanas, cujo peso das gotas é o peso da minha humanidade. Ah! Você e seu inevitável dilúvio. Houve dois séculos para os meus destemperos. Duzentos anos de imoralidade e desobediência solitária petrificaram meu peito. No entanto, se posto que sou um bicentenário marginal, santificarei seu beijo como meu derradeiro pecado hereditário.

Autor: Lucas Vinícius da Rosa