De Relance

Declaro aqui, amparado pela lei nº tal, artigo algum, parágrafo qualquer, aberta a seção de crônicas do mais novo, porém não menos saudoso, www.palavreado.com.br. Em uma linha bastante diferente do último texto, neste blog postado pelo meu caro colega de aventuras literárias Lucas Vinícius da Rosa, este busca descrever, e assim acredito serão os demais textos desta seção,  fatos corriqueiros do cotidiano, presenciados ou não pelos seus autores. Boa Leitura!

Voltando do bar a vi, entre duas de suas amigas. A luminosidade fraca do salão não impediu de embasbacar-me com tamanha graciosidade. Parei, olhei para esquerda, onde meus amigos pulavam ensandecidamente ao som roqueiro da banda do baile. Norteei novamente o olhar para a morena de vestido branco. Titubeei, senti-me momentaneamente como a encarnação da timidez. Fui tornando-me aflito. Com o copo na mão, busquei recuperar no fundo do âmago o que ainda restava de sanidade em mim. Com pouco sucesso, devo confessar.

Ao lado das caixas de som, encontrava-me eu, estático, dormente, com as mangas da camisa pobremente dobradas sobre os cotovelos. Meu pensamento bamboleava entre juntar-me novamente ao louco bando ou, encorajar-me para iniciar a longa jornada de 7 ou 8 passos em direção a ela. Num sobressalto, volto-me a mim e reflito – porque diabos tanto drama! – afinal, é somente outra mulher muita bonita da festa. Outra tentativa inútil de adaptar-me a situação. De todo modo, mesmo com as pernas quase trêmulas, abandonei toda indecisão e coloquei-me em marcha em direção ao meu objetivo, beijar criatura mais bela da festa.

Logo após o primeiro passo, já havia planejado como abordaria a princesa de olhos negros e expressivos. A convidaria para dançar, cuspiria qualquer piada infame e idiota, com o intuito de arrancar-lhe algum sorriso dos lábios e iniciaria, naturalmente, uma conversa agradável sobre qualquer assunto que eu percebesse ser de seu agrado. Fácil, rápido, objetivo e com boas chances de funcionar. Perfeito, acontece que na prática…

A cada passo, menos distância e mais ansiedade. Bravamente, tal qual um guerreiro espartano, combatia minha embriaguez. Eu realmente precisava pronunciar algumas palavras conexas para convidá-la para dançar. De repente, a banda muda o repertório e ouço tocar música sertaneja, pensei – Ah garoto! o mundo conspira a seu favor, simbora – Estava quase lá. Completamente focado seguia eu. Por um momento, era como se não existisse nenhum outro tipo de vida ao nosso redor. Fitava a como se pudesse, de algum modo, fazer parte de sua irriquieta e rara existência. A proximidade confirmava sua beleza quase que intimidativa.

De relance, percebo que havia brilho somente em uma de suas orelhas, a outra estava nua, sem nenhum metal para adornar. Pronto, havia acabado de encontrar uma boa maneira de chamar sua atenção. Finalmente cheguei muito próximo a minha empreitada. Delicadamente segurei seu braço e bradei, com firmeza cênica – Quer dançar? – e antes que ela dissesse sim ou não, completei – Prometo que não lhe faço perder o outro brinco! – instantaneamente ela levou as duas mãos as orelhas e percebeu que havia perdido um deles. Estava indo muito bem, mostrava-me observador e atencioso. Como pagamento pela atuação, recebi um sorriso que me fez explodir em confiança. Porém, de súbito aproximou-se um rapaz, magro e ligeiramente mais alto do que eu. Em suas mãos havia uma garrafa de água e dois copos, a morena olhou para ele, novamente para mim e disse timidamente – Esse é Victor, meu namorado!

Autor: Armindo Guerra Jr.