Da morte do indivíduo, para o nascimento da sociedade

Estive pesquisando entre meus semelhantes, para verificar se, de fato, há semelhanças entre nós, de modo que nos coloquem em mesmas categorias e definições. Logo percebi, dado este propósito, a imediata e forçosa necessidade de esquivar-me da limitação da linguística, para aprofundar-me na sociologia do ser. Eis o que vi, com olhos de águia compenetrada e ágil serpente: seres desesperados para se enquadrarem em algo; tão despropositados de sua existência, em seu íntimo abissal não compreendendo o que é a vida em si (porque a consciência neste paradoxo se encerra, e entrega, neste ponto, à alma a obscuridade do que nunca chegará ao paladar da língua) que se apegam ao que lhe ensinam em primeira mão. Assim amam a primeira pessoa que lhe afaga, odeiam a primeira mão que apedreja, sacodem os ossos ao primeiro vento forte, ainda que seja brisa, e chamam qualquer auto-ajuda de filosofia de vida.

Buscar o assassinato da definição do ontem é o horror ao homem tradicional, já concebido e comum, formador desta horda chamada massa, que, dentro de seus abismos, refuta arriscadas virtudes. Assim se disfarça, como roupas esticadas num varal ao sol apino, para que se seque de seu suor sórdido, aquele que não quer transpirar suas fraquezas e verdades. Ou seja, num arremate só, para que fique esclarecido aqui o pensamento, procura-se a diferenciação social, contudo através da maior contradição já carregada pelo homem (como o prova a sua história de pegadas ambivalentes): pela morte de sua individualidade, que é justamente o que o torna distinto!

Autor: Lucas Vinícius da Rosa