Último grito de desespero

Sento-me, mais uma vez, sozinho; acompanhado apenas pelo papel e pela escrita; empunho uma caneta, não um lápis, sem borracha, afinal não irei pecar, ou errar, ou ludibriar.

O vento choca-se contra meu rosto, como uma rajada inevitável de vida e de morte. Tenho falência externa a cada respiração. Meu dorso dói. Minha espinha maltrata. Minha medula espinhal está enfraquecida pelos seres humanos; por eu mesmo. Tenho leucemia, de modo que minha células não são mais saudavelmente geradas. Contudo, a cada lágrima e a cada sorriso compartilhado, conhecido ou apenas corriqueiro, ganho mil anos de humanidade.

Um escritor que está solitário no deserto, vítima da observação do desgaste das relações humanas. Assim se faz esta escrita já desgastada. São populações ao meu redor, e quando tento abraçá-las, vejo que meus braços não alcançam o mundo; tenho péssima envergadura.

Ontem, perguntaram-me minha idade. Respondi:

– Tenho pouquíssimos anos, mas o que vejo, absorvo, sinto e pelo que padeço, trouxe-me eternidades.

Quando nasce uma criança, abraça-lhe em seu ventre a sua mãe, com olhos fascinados, repletos de esperança. Quando morre um adulto, já está falecida a criança. Em seguida, portanto, devo escrever infantilmente, ainda que crianças também cometam delitos.

Aqui, agora, presencio inseguranças nas pessoas como as minhas. Aplacadas falsamente por beijos superficiais, sorrisos brandos, e fracas paixões. As ambições são, em suma, fracas; sobrepujam o coração. A ambição, esta que vejo nas esquinas, não tem amor por aquele que ambiciona. Mas, quem sou para anunciar esse vexame? Sou meramente um garoto que errou em amar, em ter ódio, e gentileza, e raiva, em ser outro ser humano.

Lindos fios loiros descem até o meio das costas da mulher que se chama impacto. Seu cheiro se dissipa sem ela saber. Quando estou finalmente por isso embriagado, ébrio, ela já sumiu. Vê? Somos utópicos. Fantasiamos o nascimento, tememos a morte, e até esquecemos nossa definição.

Sem pódio, sem medalha, sem beijo de namorada, sou um poeta maldito; sou apenas mais um cara!

Autor: Lucas Vinícius da Rosa