Quando chorei pelos meus avós

Avós

Lembro-me de seus gestos que não sabiam escrever no ar. E depois da possibilidade de cometer todos os pecados, os quais apenas uma criança teria a coragem de aguçar sob a penitência invisível. Subia à mesa, e fazia escárnio de tudo aquilo que fora proibido aos meus pais, e jamais a mim — afinal, eu era-lhes, aos vovôs, criança e lhes fazia sorrir com o sabor ímpar dos infantes; parecia tudo tão puro, como se não houvesse mortes após os cafés passados no coador.

Os choros os quais ouvi pelas histórias de meus pais foram a minha enchente mais imaginada. E como senti falta dessas figuras que se faziam avós enquanto vivos. Depois de mortos, era como se, por ocasião da podridão do cadáver (que não pergunta personalidade, onde já a própria ética há não mais!) e padece, eu pudesse sambar sobre seus mármores; porque assim permitem os avós, mesmo mortos. Fiz um copo de capilé sobre a tumba de vovó, e em seguida ocultei os segredos da morte de meus próprios pais. Para que não sentissem tudo o que insistem os feriados em enaltecer pelas cinzas, em suas ocasiões cheias de símbolos, e ausentes de ossos.

Enxerguei que poderia ser tudo aquilo que a sociedade não queria — e assim o fiz!; e com a conivência desses meus avós, eu voltaria a chorar as lágrimas feitas dos sentimentos que rompem as hierarquias, para precisamente alcançar um torre de Babel sem premeditação: onde conseguiria, com minha gramática mais sentida, descrever-lhes as características, e escutar outra vez a gargalha de meu avô sem o compromisso das idades?

Jamais poderão podarem-me o dom de criar as cantigas que sempre quis escutar, mas só as ouvi por histórias. E depois disso, sendo eu de tão vocabulário incólume, personificarei todas as presenças as quais desejei viver sem idade. Nunca tratou de mera carência; e nunca será, já que os dedos perdem suas impressões digitais ao tentar em mim achar definição estática. Tão simplesmente sou um escritor que esboça as lápides em ruínas, cuja água da chuva, longe de lavar a sujeira externa, refaz os caminhos da alma.

Eis meu amor pelas existências nas quais pouco existente pude me inserir. Daí nunca existir amém. E agora firmo fundo propósito nestes pilares erigidos sobres os ombros de Hércules. Sou o covarde mais forte deste mundo, enquanto discurso sobre os sentimentos da falta, e ainda assim posso amar o que nunca vi.

Autor: Lucas Vinícius da Rosa