O escrúpulo da marternidade

Sou feto desesclarecido que,
por cordão umbilical invisível,
não compreende o que é ser mãe,
todavia sente-se honrado em ser filho

Ontem tive um sonho freudiano
em que você cortou,
propositadamente, seu braço
deu-me o sangue que escorria,
rico em ferro,
apenas para curar minha anemia

Como uma árvore,
que não renega seus frutos podres,
suas raízes penetram meu coração
firmam, lá no fundo,
consolo que conserta minha podridão

Ama de leite do mundo envenenado
de tez queimada pelo sol do deserto
aridade por onde vaga o filho ingrato
eis que, mesmo para este,
há lactose abundante em seu busto:
amamenta o filho limpo,
também o heriditário sujo

Recebi de você 23 presentes
23 cromossomos, cada um deles,
oriundos de uma dança comovente
de um sexo que me fez estar aqui
tornou-me filho, e depois gente

Vidente do zelo e do esmero
reveladora mística do erro futuro
ama, sem erro, em qualquer tempo
no futuro, no presente, no passado
ama em todos os dias do calendário

Porém, em virtude da lembrança,
hoje, na sua data,
os homens matam-se um pouco menos
percebem sua desprezível condição:
categorizados como filho pequeno,
classe horrorosa,
só são humanos, ou homens,
se forem prole de mãe grandiosa!

Autor: Lucas Vinícius da Rosa