Nada

Flying words

Nada me toca a alma. Porque sou impotente em saber se ela está lá. A vida estremece minhas vísceras, não meu vazio. Se me enfiam uma faca no peito, é minha carne que sangra, não meu espírito. Não sou constituído de deuses quando sucumbo às dores; de fato, não me dói alma alguma; meu coração está escondido no crânio retumbante. Minhas debilidades são verdades exclusivamente minhas; jamais desejaria essa força e valentia alheias, desfiladas nas ruas e vitrines virtuais por rostos tortos e maquiados.

Há pouca potência em quem sorri apenas para fora; filas quilométricas de seres em pose de gratidão adulterada; basta-lhes um cisco nos olhos e logo amaldiçoam a visão. Vossos heróis estão todos sepultados no mármore da imaginação.

Sou a contradição entre o tudo e o nada, exceto o que são os outros! A denúncia do meu fracasso educou-se indiferente ao mundo: eis meu triunfo invisível, sem voz, sem alma. A linha de chegada das competições se estende no portal dos cemitérios.

Bilhões de pessoas, centenas de castas. Durante toda uma vida, se imprimem e se reproduzem na cultura mais fajuta, afugentando-se da solidão; cientes, no entanto, que a carregam sempre silenciosamente consigo.

Autor: Lucas Vinícius da Rosa