Minha savana

Condenem-me vocês, turistas da vida com más almas. Hoje sou apenas uma fagulha de uma chama que não quer apagar. Cansado de ser assim, menosprezado pelo pouco, quase inestimável, pelo julgamento desses seres que figuram como cânceres, sei que posso ser severo e justificadamente emocional. Contudo, ainda neste contexto, consigo abrir sorriso em bocas desdentadas. Sou até capaz de fazer sorrir o banguela que sente vergonha da sua ausência de dentes. É que a felicidade nunca dependeu de gengivas. Quem dera, houvesse ela, a Felicidade, desapegado de sua alma alegre e seu tropeçar na língua, e derramado seu óleo sobre todos sem distinção. Contudo, por engano meu, eis estes palhaços em corpos de asnos, que tentam obter sorrisos ilustrando sua imagem no espelho. Ah, prefiro os humanos aos humanos; engraçado não? Ainda que alguns insistam em frequentar esses zoológicos de girafas sem pescoços e rinocerontes sem chifres. Julgam-me louco. Muito destes, os quais sequer um ticket para o zoológico tiveram, ou uma mera permissão obtiveram em ver girafas, estão neste mesmo circo ao qual assisto; são esses os seus sábios, ou seriam seus ignorantes? Não que girafas sejam tão relevantes assim para os assuntos vitais. Suas partes são horríveis e nada eróticas. Sequer sei a valia de seu pescoço. Todavia, quanto a seus curadores, seus conservadores dos, e de, pescoços grandes, sei deles que são curtos. É que morreram nesta conservação dos outros. Seus pescoços, como sequer Lamarck diria, cresceram desproporcionalmente, e sem sentido lógico qualquer. Se um Darwin, ou um Couvier — um julgara sobre a genética, outro tratara sobre os fósseis –, saberia apenas que vejo a evolução de ossos mortos. Eis a minha evolução: dois movimentos humanos não complementares, embora pareçam: amar e viver.

Autor: Lucas Vinícius da Rosa