Arquitetura dos elementos

Ocean_stairs

Em suma cumplicidade ao vento,
A areia tão só perfaz sua direção;
Grão após grão, violenta,
A pequenas pacientes rajadas,
Em ameaça inútil aos meus olhos,
Que irritam-se se eu os coço;
Mas ira-me ainda a minha alma,
Se não assisto à beleza que acalma:
Da Natura a areia e o vento,
Criminosos cúmplices que ir-me não hão
Jamais cegar-me com concedida permissão.

Nu entre entre seres humanos,
Recobertos por camadas de
Densos panos, sou por dentro;
Eles insistem em ruidosos assoprar,
Como o vento, areia em meu olhar.

Porém a beleza, que não se esconde,
Mas se exalta e se destaca como
Esplêndido a mim monumento,
É o oceano de onde vim juntamente
A Tales de Mileto.

Os ângulos dos triângulos são
Meu último instrumento,
Para lavar-me do raciocínio da alma
A imundície com que me fizeram
A pena empinar e o contrato,
Assinar.

Empreguei-me projeto em que
Que de meu estorvo fizeram selo,
Vinculado à moeda do poeta
Tresloucado e estragado,
A quem pela arquitetura ousada
Tem da opinião pública o escárnio.

Da tradicional engenharia contrário,
Como aquecido pela faísca, e porvir
Chama do que pela fogueira torna-se
Apaixonado, tendo-la construído:
Firmei a escada no oceano vasto e
Sanguíneo do meu coração, a esticar
Os degraus em aclive vencendo a areia
E o vento.

Rumo ao topo da abóbada celeste,
Quando do céu já não pudesse ser
Acometido por terrena qualquer peste,
Ao olhar para baixo, era instantâneo viver;
Pulsava-me o peito profundo, e amiudava-se
A humanidade, como formigas enfileiradas,
De um filão que julgava levar ouro
Para as fendas escondidas duma sociedade,
Outra e outra vez espoliada, sendo tão só
Conjugado no pretérito imperfeito o tesouro.

Autor:  Lucas Vinícius da Rosa